Quando a saudade e a tristeza vierem outra vez lhe ver, explica esse incômodo com visitas inconstantes e sempre tão sem hora. Não basta ser saudade, não basta ser triste, não. A indelicadeza, a falta de modos impera. Diz a elas que, ainda assim, trata-lhes bem, esforçar-se-á para passar a tratá-las melhor. No abraço em que há de resguardá-las dos vícios todos, numa próxima oportunidade, tristeza e saudade e ti hão de ser unos. Um. Meus braços abertos, minha compreensão e cobranças mandam lembranças. E abrem-se um pouco mais num sorriso amarelo de cumplicidade.
Mateus Grava
E que quando eu não puder mais escrever, ver e ler de novo a vida, guarda ainda em mim, ó, Deus, tudo que de vida vivi. Para que, assim, todo vivo, poesia viva eu siga.
domingo, 26 de setembro de 2021
domingo, 3 de junho de 2018
Um cão vagabundo ao léu
Na língua de fora o sorriso de Karenin
A esbórnia de Flush nos descompromissos do sempre
Nas visões da beleza os preás de Baleia.
Na língua de fora o sorriso de Karenin
A esbórnia de Flush nos descompromissos do sempre
Nas visões da beleza os preás de Baleia.
A morte se vai, apaga-se nos corredores de descalçadas patas fujonas do lar
(O lar verdade é o mundo)
Um cão sem amanhã: nada mais inteiro, mais belo, mais prodigioso por não ser, mais privilegiado em tanto ter.
(O lar verdade é o mundo)
Um cão sem amanhã: nada mais inteiro, mais belo, mais prodigioso por não ser, mais privilegiado em tanto ter.
Quando a gente vai à padaria comprar pão
A gente se confunde no vagal vagar do sorriso de um cão.
A gente se confunde no vagal vagar do sorriso de um cão.
domingo, 16 de outubro de 2016
Homem virtude real, uma perspectiva
o homem inventa as drogas
(às quais aprisionar-se-á)
para livrar-se das drogas
que outrora inventou
para livrar-se das drogas
que outrora inventou
prende a respiração, solta o ar que prendeu
para ganhar tempo para dinheiro criar
quando solta o ar, não se dá conta
da sujeira expelida, está cego
e com novo outro filho para criar
mas não sabe o que é criar um filho
(nem mesmo sabe que os filhos criou)
e então inventa o filho
remunera o filho
droga o filho
cega o filho.
para ganhar tempo para dinheiro criar
quando solta o ar, não se dá conta
da sujeira expelida, está cego
e com novo outro filho para criar
mas não sabe o que é criar um filho
(nem mesmo sabe que os filhos criou)
e então inventa o filho
remunera o filho
droga o filho
cega o filho.
o homem inventa então outras drogas
para privar-se da feia realidade
que à sua volta inventou.
para privar-se da feia realidade
que à sua volta inventou.
segunda-feira, 8 de agosto de 2016
Gente má
Pessoas
más que não escolhem hora
Nascem,
crescem, morrem
E
não escolhem hora pra morrer
Pode
ser numa tarde de verão das mais especiais pro filho
Pode
ser aos cinco anos do menino
Que,
sem pai agora, órfão vai andar num mundo mal
Que
permite gente má a habitá-lo de maldade
Tornar-se-á
pessoa má no mundo
Vai
crescer, morrer, sem escolher a hora pra morrer
Podendo
ser no jantar de bodas, ao pé da esposa
No
único casamento feliz que houve no mundo
No
mundo mal que casamento não escolhe
Pra
permitir que gente má sem avisar se vá
Deixando
a mãe órfã de outro filho, só no mundo
O
amigo que outro amigo igual não tem e não terá
Menino,
criança, velho, gente má
Os
netos ficam, sem entender, de nada importa
Abre
outra dose de mundo, deixe estar
De
nada importa a tristeza que há de haver
Sendo
tristeza no feliz tudo o que há.
quarta-feira, 6 de julho de 2016
O Anjo Servo do Senhor
Nervo
ciático, a noite escuta
Sede
que fala, a noite escuta
Noite
que berra, a noite escuta
Lua
que ouve no viracopos
Noite
que escuta, noite que canta
Coloriu
prazer etéreo
Amnésia
Um
anjo passou longe, a noite trouxe
Servia
mais uma dose...
Cheguei
ao lado pra ouvir,
a
noite escuta
Ganindo,
o cão avisa:
Tudo
é sexo, é excesso
A
noite conta que sou um ser indefinido
Mas
ouço, a pena é que não lembro o que ouço
E
a noite não volta contar
Quando
volta, na outra noite
Estou
ébrio outra vez
Late,
late o cachorro
Sussurra
o cão entre dentes
A
noite sempre escuta!
Dor
moral, tudo repetido é repetitório
Você
entende a poesia
E
a poesia não é feita pra entender
No
endereço errado encontro a noite
E
a noite não conta mentiras
Mas
nada fala também
A
noite apenas
Escuta
E
atende
Quem
chama sou eu, admito.
Mas
a noite ouve tão bem...
Oh,
Noite, abraço-te outra vez
Cruel
e linda Noite
Incrível
como nunca te escondes
E
nunca te presto devida atenção
O
endereço é sempre o mesmo
E
eu, todo incerto.
Descubro-me
a mim, logo eu
Um
indivíduo cheio de certezas
(Sim,
certezas.)
Tapo
os ouvidos para o que o padre diz
E
ouço novamente
O
Anjo Servo de Deus
Ele
a indicar caminho está
Escrevendo
sempre reto por linhas tortas
Mas
como cansa, Meu Senhor...
Sou
certeza em pensamentos
Ainda
que não os entenda
Ainda
que eles sejam um tanto quanto poesia também
E
ainda que eles sejam um tanto quanto poesia também
Também
os ouve, a noite
Noite
escuta, noite escuta
A
noite fala, a noite não fala
Canta
bastantes vezes
Canta
bastante, a noite
Noite
noite noite noite!
E
essa gorda a meu lado não para de comer
O
cheiro, pra mim, é pior do que o cheiro de merda
Merda
doce
Mastiga
sem parar
Procura
com a mão enquanto mastiga
Mais
doce no saquinho
Mastiga
merda
Merda
De
cavalo
Este
pode estar sendo o último cigarro
Vai
morrer
Ou
parar de acreditar no Anjo Servo do Senhor
Mas
ainda há noite
E
enquanto houver noite
Tem
sentimentos...
E
ama.
segunda-feira, 27 de junho de 2016
Poema viva
De onde vem a vida
Se é que vem a vida
O quanto estamos nela
Se é que a existimos
O quanto o meu viver
Além de brincadeira
E do brincar de sério
Levar se deve a sério
Qual tanto é de verdade
Que tanto amor me vale
O que se chama amar
Um verbo assim sabido
Por que se preocupar
Mas se não se preocupa
Como vai me enganar
E se não me enganar
Por que aqui estar
Eterna brincadeira
De a sério me levar...
Se é que vem a vida
O quanto estamos nela
Se é que a existimos
O quanto o meu viver
Além de brincadeira
E do brincar de sério
Levar se deve a sério
Qual tanto é de verdade
Que tanto amor me vale
O que se chama amar
Um verbo assim sabido
Por que se preocupar
Mas se não se preocupa
Como vai me enganar
E se não me enganar
Por que aqui estar
Eterna brincadeira
De a sério me levar...
segunda-feira, 20 de junho de 2016
Dos advérbios, adjetivos abjetos e outros queridos entes
Vai, se culpa, o inocente
Inconsequente e indulgente
Forte e vil suficiente
Fraco corpo, torpe mente
E se desfaz comigo ausente
Faz tempo, eu, sobrevivente
Assim, insuportavelmente
O mais teimoso, o insistente
Nem feliz, nem descontente
Anestesia entorpecente
Faz-me o sujeito indiferente
Comum, comum a toda gente
Estar incluso, eu, de repente
Percebo, um sempre, novamente
Repete e pede (é comovente!):
Mais uma dose
Outro trago
Mais outro dia frio
E finaliza
A conversa das rimas mesmas
Num mesmo imenso vazio.
Inconsequente e indulgente
Forte e vil suficiente
Fraco corpo, torpe mente
E se desfaz comigo ausente
Faz tempo, eu, sobrevivente
Assim, insuportavelmente
O mais teimoso, o insistente
Nem feliz, nem descontente
Anestesia entorpecente
Faz-me o sujeito indiferente
Comum, comum a toda gente
Estar incluso, eu, de repente
Percebo, um sempre, novamente
Repete e pede (é comovente!):
Mais uma dose
Outro trago
Mais outro dia frio
E finaliza
A conversa das rimas mesmas
Num mesmo imenso vazio.
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